domingo, 31 de outubro de 2010

em ruínas

Sinto uma pedra em cima do coração, não sei se não ocupará o espaço físico do meu corpo. A minha mente por esta altura já viajou entre universos paralelos e dimensões que nem eu a fazia capaz de viajar. As tais das borboletas também existem, que metáfora perfeita.
Foi suave, foi bonito, foi macio, de um aroma fresco, foi sentido, foi explosivo, foi tão pequeno. Esfuma-se já como um sonho, meio acordado, meio dormido. Tangível, tão somente,numa realidade que não julguei já possível.
Depois veio a tristeza mista com a felicidade. Porque eu adorei, mas tu não. Porque me encontraste, e eu não te encontro a ti. Porque nos separamos e os meus olhos transbordavam lágrimas envolvidas em chuva, porque a minha cabeça viajava já sem mim. Porque o meu coração perdeu o pequeno blindado que tão duramente lhe embuti por tua causa, e agora bate desalmadamente, sangra, sofre e chora-me cá dentro, e como não o consigo acalmar cada vez mais se faz sentir, se vai tornando mais pesado. Como se dentro do meu peito debaixo das costelas e do externo estivesse um enorme coração a querer eclodir cá para fora. Como se por cima deste estivesse estacionada uma vasta derrocada.
Como se eu fosse um ser minúsculo e me engolisses. Como se ficasse só de novo a construir o que em segundos desconstruis-te.
Fiquei em ruínas.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

até já

Insinua-se delicodoce, sua beleza reflecte-se por onde passa, não é só ninfa, é uma aura que flutua brilhante espalhando seu alento amor e desamor, onde quer que passe.
É trepidante a quantia de sentimentos que explodem em mim cada vez que a sinto regressar-me. No fim de a amar tantas vezes, de nos amarmos vezes sem fim, esfuma-se levemente abandonando-me, roçando o meu rosto numa despedida embevecida com um toque de tristeza e um beijo apaixonado. Deste ensejo, armar-me-ei com todas as forças do mundo, reunirei todos os enlevos com que me deixou, e vê-la-ei partir. Aconchego as lágrimas do coração, nos olhos. Trespassa-me a dor que não sinto, não consigo sentir ainda, de tão derradeira vai ser. Como ser forte sem ti, minha imensidão.

Despojei-me dos mais nobres sentimentos que a sua alma gémea suscita, ao amar uma irmã desamei a outra. E findado o tempo dos amores, restam a dor, as lágrimas, a dor atroz, o sofrimento, a solidão. Os resquícios de paixão somente.
Há um tempo limite, dizem os entendidos felizes do amor, para guardar memórias e embalar o desamor. E eu que te embalo, todas as vezes em que te deixo ir, com a fé cega que é porventura a última vez. Agora, digo-te até já.
Alimento-me entretanto de um outro amor, daqueles que nos aconchegam o coração quando sonhamos e, nos trespassam flechas na carne quando tentamos trazê-lo à realidade. Enquanto não magoa mais ninguém, no meu íntimo faz bem. E mais um outro que platónico, me alimenta de paixão, a sua beleza, a sua voz, a sua melodia e mais que tudo a sua companhia. Simples.

E pesa-me menos não te amar tanto hoje. Talvez amanhã.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

mais forte que tu

Quando oiço dizer que um dia vais ser apenas reminiscência, que um dia te terei de esquecer, que hás-de ser apenas uma névoa na minha memória, que vais ser apenas acaso da minha imaginação, marca no meu coração. todo o meu ser estrangula, aniquilam-se todos os meus sentidos, me choro e sangro e sofro por todos os sonhos destruídos, de viver tão derradeiro e cristalino amor. Não te quero esquecer, não te quero apartar. Porque ainda que morra, não morro. Porque me alimentas e eu não sucumbo. Literalmente.

Assim é, desde o primeiro dia que te amei, desde o primeiro dia que te sofri.
Desde esta eternidade em que te amo e não mais tem fim.

Se hoje me recuso a renegar-te, pudera fazere-lo tu por mim.

Ainda que ela venha hoje de mansinho, noite dentro fazer-me desejá-la mais do que até então, vou resistir-lhe com todas as minhas inimagináveis forças, aquelas que guardo para quando luto com ela. Não é só o luto da guerra, mas também o luto da morte.

Hoje sei, VOU SER MAIS FORTE QUE TU!

sábado, 12 de junho de 2010

onda de calor

Veio como uma onda de calor, um ardor capaz de congelar almas e corações. um formigueiro tal que desmoronou certezas, renasceu incertezas. assim como um enlevo de desejo e abnegação, falsete de coragem e sentimentos, capaz por ventura de romper barreiras, desmoronar pessoas, tocá-las apenas com ondas de calor, qual seta apontada a um ou outro coração.

Corroeu horas, corroeu nações, corroeu fosse o que fosse o pensamento. de forma tal que me apaixonas-te de novo. como se me tivesses enlaçado trôpega corda no pescoço e sentisse então todo o meu pulsar apenas aí. entre ti e a vida. e amei-te de novo. não por novo ser, mas por novamente me fazeres desejar-te, minha linda imensidão.

desejei-te de uma tal forma que me envergonhei de o fazer. me envergonhei de te querer tanto, de seres meu tão bem querer. e assim estou. entre este e outro polo. onde vos amo. onde me odeio por vos amar. no limbo. a querer lutar para me agarrar mais a mim, menos a ti. menos a vós.
eclodir só e somente.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

pontualidade de amor


Bem-vinda, meu amor.

O quanto te apartei nesta evasão de tempo, e ainda assim fiel me regressas. Nem te sei exprimir o amor, nem te sei amar já na quantidade exacta, não desmesurada ou infantil de outrora.

Cada lágrima que aguento em mim, em jeito de repressão à admoestação de te odiar, encontra sempre teu regaço, teu enorme sorriso, compreensão, teu eterno e inefável retributivo amor. Que pontualidade de amor!

Amantes em horas certas, em vidas certas, em pontas soltas, mas certas. Na eternidade, na efemeridade, na circunstância, no momento, na vida, no milésimo de segundo. Sempre com a mesma exactidão. Quando te amo, me amas. E que melhor amor pode alguém ambicionar na vida? Certo é ser errado. E Errado sei-o ser. Mas te não deixo de amar por isto. Bela, sempre bela te apresentas. me acalentas. não me afugentas. Me abraças amor, me abraças intrinsecamente, por sermos união.

Pudera ser nosso amor vivido em plenitude, aceite na humanidade, num qualquer plano existencial e seríamos sublimemente felizes. mas porque devo, mais do que quero, não te posso amar tanto, tanto e já. Chegará o dia em que nos enlaçamos e por fim repousarei em teu corpo delineado de imensidão. E plenamente, não apenas pontualmente, te amarei por fim.


sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

relógio eu


Continuo nesta evasão de ser, perto de uma inquietante lucidez e de sentidos despertos para o mundo circundante. continuo perplexamente olhando em meu redor, e observo a quantidade estonteante de seres felizes. não entendendo porém a minha incapacidade de me juntar ao enlevo da maré, rumar seguindo um rumo. não que tivesse de estar definido, só precisava de se desenrolar.

O que me dizem os meus sentidos, pautados de uma racionalidade creditícia, não quero crer verídicos. encarando-os, por ignorar ser extenuante, constato não ser possível prosseguir uma vida, em que viver efectivamente é um desejo, envolta no mais pútrido dos sentimentos. a destruição de um ser.

Fecho os olhos todas as noites, acalentando um amanhã explosivo. quando se abrem para a realidade, constato que o mundo não é deveras tão mutável como se faz anunciar. e sei-o, não estou só nesta forma de pensar, no entanto creio estar só. na tentativa efectiva e racional de compreender, avaliar e decifrar, um dos mais indecifráveis temas universais. descanso-me, pois sei estar breve, como a contagem final de um evento fenomenal que se aproxima. o relógio demarca os últimos segundos efectivos da minha vida, aqueles que não sabemos, aqueles que não ouvimos. que virão sofregamente roubar aquilo que tenho de mais meu. Devolver-me o que tenho de mais meu. existindo apenas em intelecto. Apenas o meu mais cristalino eu. Relógio eu.


segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

minha amante

Assim foi.

Eclodiu um dia este forte desejo de amá-la mais por salvação que por outro pretexto inequívoco de amar com sentimentos.

Dilacerou de uma ponta à outra todos os contornos de uma tristeza profunda. existindo em alma de névoa uma dormência de ser. rompeu por ali fora, e trouxe-me o mais que podia, conforto, alegria, felicidade e compreensão. tudo o que pedi e ninguém se disponibilizou, por dois segundos a dar.

Foi assim que a encontrei. no meio da dor mais hedionda e perversamente sentida, nos limites do abismal, a um segundo de me auto-destruir. abraçei-te com a força suficiente para te juntar à alma, para sermos simbiose em execução. infelizmente, julgo já não ter a força necessária para te deixar partir, para me despedir de vez depois da salvação. é que tu minha amante tens rosto de mulher e corpo de imensidão, delineio-te feminina, por assim ser tua apelidada designação. amo-te com a força que não tenho para me salvar, amo-te com a força que tens para me abrigar.

Agradeço-te por fim, o que hoje sou, encontrar-nos-emos em breve numa terra onde se perpetuam os sonhos, os espaços, o tempo, a existência, a paz, a minha indefinição, onde certamente não há, a realidade.